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Joaquim Ferreira dos Santos | Conde de Ferreira
Benfeitor | Capitalista

Quinto filho de João Ferreira dos Santos e de Ana Martins da Luz, modesto casal de lavradores, Joaquim Ferreira dos Santos nasceu a quatro de outubro de 1782 em Vila Meã, lugar da freguesia de Campanhã, situado nos subúrbios da cidade do Porto. Casou com D. Severa Lastra, no Brasil, senhora de nacionalidade argentina e de enorme fortuna, da qual teve um filho que faleceu ainda jovem.

A sua passagem pelo seminário foi determinante na obtenção de uma formação que lhe seria muito útil, mais tarde, no desenvolvimento de uma notável carreira comercial que se iniciou como caixeiro, no Porto, e culminou como negociante no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, então uma colónia portuguesa para onde emigrou ainda jovem, munido de uma carta de recomendação, no início do século XIX. Esta ascensão foi conseguida graças a uma prática comercial muito difundida na época - a consignação, juntamente com o apoio dado por um parente próximo, de seu nome Jerónimo Carneiro Geraldes, que, na Invicta, lhe consignava mercadorias vindas do Brasil.

No Brasil, o contexto das Invasões Francesas provocou o esmorecimento das relações comerciais com a metrópole, obrigando-o a diversificar os seus contactos. Assim, alargou as suas atividades comerciais para a Argentina, para a América Central e, por último, para África. Neste continente, designadamente em Angola, na cidade de Luanda, obtinha escravos que comercializou e lhe permitiram granjear importantes somas. Porém, esta prática viria a causar-lhe grandes dissabores, após a abolição da escravatura, levando a ser reconhecido como "esclavagista".

Regressou a Portugal em 1832, onde vai instalar-se definitivamente e distinguir-se como benemérito e como apoiante da causa da Rainha D. Maria II, contribuindo financeiramente para esta causa. Em gesto de reconhecimento, a monarca fê-lo Par do Reino e Barão, em 1842, Visconde, em 1843, e, finalmente, Conde, em 1850.

No seu testamento, deixou a sua enorme fortuna a instituições de beneficência, nomeadamente a Santa Casa da Misericórdia do Porto para a qual legou o remanescente da sua herança, destinada a fundar um Hospital de Alienados que recebeu o seu nome. Trata-se da primeira unidade construída de raiz para a psiquiatria em Portugal, inaugurada a 24 de março de 1883. Saliente-se que, em 1900, o Hospital albergava 520 doentes de ambos os sexos, distribuídos por 14 enfermarias organizadas por patologias e por grupos sociais. Na Misericórdia, o testamento do Conde de Ferreira contemplou outros estabelecimentos como o Hospital dos Lázaros e das Lázaras e o Estabelecimento Humanitário Barão de Nova Sintra.

Além da Misericórdia do Porto, a ação beneficente do Conde Ferreira levou, por exemplo, à construção de 120 escolas do ensino primário, para ambos os sexos, nas vilas e nas cabeças de concelho do país, que incluíam habitação para os professores.

Faleceu a 24 de março de 1866, com 84 anos de idade, tendo sido sepultado no cemitério da Ordem Terceira da Santíssima Trindade, sito em Agramonte, no Porto. O seu corpo está sepultado num Mausoléu concluído em 1876 pelo escultor Soares dos Reis.

O retrato de Joaquim Ferreira dos Santos é um óleo sobre tela, de autoria desconhecida, da segunda metade do século XIX, que se encontra exposto na sala dedicada à História e Ação da Misericórdia do Porto, na área destinada ao Hospital Conde de Ferreira. Além desta obra, a Misericórdia do Porto conserva noutros estabelecimentos obras que retratam este grande benfeitor, realizadas por consagrados artistas portuenses. Realçam-se os retratos de corpo inteiro expostos no Hospital, um de Custódio Rocha e o outro de João de Almeida Santos; e, na Casa da Prelada, um busto em gesso da autoria de Soares dos Reis.



Conde de Ferreira
Autor desconhecido, século XIX
Óleo sobre tela